terça-feira, 13 de setembro de 2011

O Tempo



Por anos me perseguiu aquela impressão medonha.
Algo indefinido, causando inconformação constante e sutil.
Deformando a visão das coisas, das pessoas, do mundo...
Persistiu incansável essa espécie estranha de desejo, que mesmo intenso, não parecia mesmo meu.
Era como uma imposição externa oprimindo internamente meu peito.
Esse inexistente ou irrealizável objeto de opressão não era meu, fora me dado.
Não sei por quem, por quantos, em que momento, mas não era meu.

***

Hoje, se o ar está mais leve é porque sopraram as areias do deserto, as brisas leves e suaves do Tempo.
Como um balão que murcha ante um esvaziamento inevitável, pouco a pouco, o sentimento foi-se.
Não o decifrei.
Mas, o Tempo, esse senhor curvado, em passos miúdos e vacilantes, varreu com a luz da sua lanterna antiga toda a sombra que sobre mim se abatia.
Não sei o que era, mas não mais existe.
Devo a ele, o Tempo, talvez alguma sabedoria aprendida no escuro. Sem leitura, que tanto prezo, sem guru, sem carinho, sem cuidados. Só a dura areia da ampulheta, descendo lentamente sobre minha cabeça.
Cada pequeno grão ressoando alto e doloroso.

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Fragmento do livro que estou escrevendo.

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