quarta-feira, 10 de março de 2010

Encontro marcado


Mais um conto da série Contos Inacabados.
Veja os contos anteriores aqui


Em meio ao caos da metrópole, uma mão pequena e firme segurou o braço da moça.

Quando ela se virou assustada, temendo um assalto, deparou-se com uma cigana em trajes coloridos e olhar lúgubre.

Pôs na mão da moça um pedaço de papel e apertando ainda mais sua mão disse:

- Não é um convite, é um encontro marcado! – e fixando o olhos da garota saiu, misturando-se na multidão até sumir.

Depois do choque, a moça olhou perplexa para o pedaço de papel, no qual havia apenas um endereço, uma data e hora.

Algumas coisas estranhas já lhe acontecerem ao longo dos seus 30 anos, mas nada tão intrigante. Tanto que passou os dias seguintes a mirar o pequeno pedaço de papel, sem se resolver a jogá-lo no lixo.

A data marcada enfim chegou.

Foi um dia estranho. Não foi ao trabalho pois acordou muito tarde.

Isso raramente acontecia a ela.

Não saía da cabeça da moça a frase da cigana e ela voltava a mirar o pedaço de papel.
Tão perturbada ficou que, num impulso, resolveu tirar aquilo a limpo, comparecendo ao tal “encontro marcado”.

Tomou um taxi e foi ficando apreensiva vendo que o endereço levava-a para longe da cidade, tomando a estrada para alguns sítios e chácaras nos arredores.

Se deu conta, afinal, que devia ser uma festa cigana!

E era.

Foi recebida como se fosse ansiosamente esperada. A cigana que lhe havia dado o papel aproximou-se logo da moça e serviu-lhe um chá quente e doce.

- Este é o chá do amor – disse, com um sorriso estranho.

Várias pessoas dançavam ao redor de uma enorme fogueira, no centro do acampamento cigano.

Ela bebericava o chá, observando a sinuosa dança das saias rodadas, quando viu um homem junto às árvores, sozinho, olhando para ela.

Ele fez sinal para que a moça se aproximasse e ela, sentindo-se como num sonho estranho, viu-se rapidamente na sua frente.

As mulheres que dançavam não estavam mais ao redor da fogueira qando ele a levou pelo braço até lá.

O belo homem de cabelos negros presos num rabo de cavalo circulava o fogo com o corpo flexível, tocando com fúria alucinada e sensual seu velho violino.

A moça sentia uma frenética energia percorrendo-lhe o corpo e pôs-se a dançar.  No universo inteiro só existiam os dois e a cada rodada da sua saia novos mundos eram criados.

Dançou assim a moça até cair de cansaço e prazer.

Acordou nos braços da velha cigana que sorrindo lhe disse assim:

- Milha filha, que bom que vieste encontrar com Kingsohr! Ele muito a desejou!

A moça agora ainda mais confusa olhou-a sem nada entender.

 - Klingsohr, minha criança, é o Feiticeiro que, quando se reveste de matéria física, se apresenta no mundo dos humanos como um bonito cigano. Ele tem o dom do encantamento pela música, tocando seu violino mágico traz felicidade a quem  fez por merecer. Mas também pune caso seja necessário. 

- É um ser solitário - continuou falando a cigana - e vive a vagar pelas estradas, protegendo os viajantes em geral, mas principalmente nós, os ROMS, os ciganos, pois muito nos ama. Quando há uma festa em um acampamento cigano, ele sempre se aproxima, e quem tiver o poder da visão, por certo o verá a tocar seu violino mágico junto à fogueira. 

Por Luciana Luz
Baseado na lenda de Klingsohr.

2 comentários:

  1. Os ciganos são belissímos... é incrível como , até contos, sobre eles... podem ter um efeito devastador no seio do leitor.

    Tudo de bom, querida, muita paz e luz.

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  2. São sim, Lu. E mágicos! Eu estava lendo um texto antigo que tenho aqui no pc quando me deparei com a lenda do cigano e logo me veio esse conto e tive que escrevê-lo!
    Beijo, amiga.

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